Fernando Saul reage à expulsão de Sandra Madureira: ataque duro, divisões no FC Porto e sombras de um passado recente

 


A Assembleia Geral deste sábado no FC Porto continua a gerar ondas de choque. A expulsão de Sandra Madureira — sócia histórica, ex-chefe de claque ligada aos Dragões Azuis e figura próxima da velha guarda — não ficou confinada às paredes do Dragão Arena. A repercussão atravessou redes sociais, liderada por uma voz conhecida: Fernando Saul, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA), recentemente absolvido no processo Operação Pretoriana.


Sem rodeios, o ex-dirigente portista disparou uma mensagem agressiva e carregada de ressentimento contra quem votou a favor da expulsão:


“908 ingratos e invejosos! Nojo! Largos dias têm 100 anos. Os 80% já lá vão há muito tempo. É esta a união que temos graças aos amadores, mas vai ficar pior, ninguém duvide”.


O desabafo incendiou o debate interno e deixou duas perguntas centrais: o que está realmente em causa? E porque é que figuras do passado recente continuam a reagir com tanta hostilidade?



O que representa a expulsão de Sandra Madureira?


Mais do que uma punição disciplinar, a decisão tem peso simbólico. Sandra Madureira representa a “era Pinto da Costa”, um período em que claques e estrutura caminhavam lado a lado, num universo de lealdades, troca de favores e influência interna. A votação desfavorável demonstra algo maior: o clube está a quebrar pontes com o passado e a expurgar a cultura de bastidores que se fortaleceu durante décadas.


Para muitos sócios, esta expulsão é um passo moralizador. Para outros, como Saul, é uma traição que humilha aqueles que “defenderam o clube na rua”, alimentando a narrativa de que a atual direção quer apagar símbolos incómodos da identidade histórica dos adeptos.



Fernando Saul ataca: ressentimento, ameaça e aviso


O discurso de Saul não é apenas emocional. Carrega subtexto:

“908 ingratos e invejosos” — acusa os sócios de ingratidão e perseguição interna.

“Largos dias têm 100 anos” — insinua que haverá consequências no futuro;

“Os 80% já lá vão há muito tempo” — tentativa de relativizar a legitimidade democrática que colocou André Villas-Boas no poder;

“Vai ficar pior, ninguém duvide” — uma ameaça velada ao clima social do clube.


Este tipo de retórica é típica de quem vê o ciclo mudar e não aceita perder espaço. Saul não está apenas a defender Sandra: está a defender a cultura antiga das claques como braço informal do poder.



O novo FC Porto tem um inimigo silencioso: o seu próprio passado


Uma parte do universo portista vive da nostalgia de um modelo de liderança paternalista, onde a fidelidade à figura central era mais importante que regras de transparência, compliance ou renovação estrutural. No entanto, a era atual exige outro tipo de gestão: menos emocional e mais profissional.


André Villas-Boas está a tentar implementar esse modelo. Mas há um problema: não se apaga meio século de práticas enraizadas sem resistência feroz. É isso que estamos a ver agora — e Fernando Saul apenas verbaliza o sentimento de um grupo que teme perder influência, visibilidade e privilégio.



Operação Pretoriana: absolvido, mas não esquecido


Mesmo absolvido, Saul carrega o peso simbólico da Operação Pretoriana, investigação ligada à relação entre claques e a direção anterior. A sua indignação deve ser lida também pela lente de um ex-dirigente que se sente limpo juridicamente, mas condenado moralmente pela nova elite dirigente, que não quer qualquer ligação à sombra judicial do passado.


O discurso agressivo de Saul é o reflexo de quem foi retirado de cena, absolvido nos tribunais, mas sem perdão no novo projeto institucional.



A outra face: os sócios querem ruptura, não reconciliação


É fácil criticar “os 908 ingratos”, mas convém perguntar: ingratos com quem? Com o clube, ou com interesses paralelos travestidos de devoção? A esmagadora maioria dos sócios que votou a favor da expulsão não quer destruir a história: quer limpar as dependências perigosas que sempre serviram mais pessoas do que o FC Porto.


Há anos que o clube paga o preço de um ambiente tóxico onde adeptos se tornaram extensão de dirigentes, com influência sobre decisões, segurança, e até sobre quem tinha ou não poder dentro das instalações do Dragão. A expulsão de Sandra é um recado: ninguém está acima do regulamento, nem aqueles que “defendem o clube como ninguém”.



Saul e a velha escola das claques: o mito do “nós contra eles”


O desabafo também reaviva o velho discurso da resistência azul e branca: “o Porto contra o mundo”. O problema é quando esse slogan deixa de ser ferramenta motivacional e se transforma em desculpa para manter privilégios, agressividade e poder informal. Quando “nós” vira casta e “eles” vira os próprios sócios, algo está profundamente errado.


A mensagem de Saul tenta manipular exatamente essa narrativa, como se quem vota pela disciplina fosse inimigo do clube. Uma estratégia emocional que já não convence a maioria.



Conclusão: o FC Porto está a escolher entre identidade e profissionalismo — e vai ter de pagar o preço


A expulsão de Sandra Madureira não fecha um capítulo: abre guerra civil entre o passado e o futuro do FC Porto. Saul é apenas o rosto visível de um grupo que se sente traído, marginalizado e disposto a minar a reconciliação interna. Quanto mais a direção avançar em reformulações, mais vozes aparecerão com o mesmo tom.


O clube precisa decidir se quer continuar a viver com símbolos que se tornaram intocáveis pela força e pelo medo, ou se quer transformar-se num projeto moderno, transparente e responsável. Não haverá caminho sem confrontos, e quem espera paz não compreende o que está realmente em jogo.


O FC Porto está a mudar. E, como provou Fernando Saul, há quem prefira incendiar a casa a vê-la remodelada.

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