Um momento de emoção no Olival
A cerimónia de mudança de nome do centro de treinos do FC Porto, que passa agora a chamar-se Centro de Treinos e Formação Desportiva Jorge Costa, transformou-se num dos momentos mais emocionantes da era de André Villas-Boas à frente dos dragões. O treinador e presidente portista não conseguiu esconder a emoção ao recordar o antigo capitão e símbolo do clube, Jorge Costa, falecido a 5 de agosto deste ano.
Durante o seu discurso, Villas-Boas foi interrompido várias vezes pela emoção, ao lembrar aquele que descreveu como “um grande homem e um grande companheiro”. O tom das palavras foi mais do que institucional — foi pessoal, humano e profundamente sentido.
“O Jorge Costa significa muito para mim e lamento profundamente a sua perda. Era um grande homem e um grande companheiro. Deixou-nos um legado impressionante, de carisma, de vitórias e de força da natureza. Um homem especial…”, disse o líder portista, visivelmente comovido.
“Morreu nos meus braços” — uma despedida dolorosa
Ao relembrar os últimos momentos de Jorge Costa, Villas-Boas revelou a dor íntima que carrega desde aquele dia. A forma como o técnico falou da despedida chocou pela crueza da realidade e pela ligação emocional que mantinham.
“Às vezes sou invadido por diferentes sentimentos, por o ter trazido de volta a esta casa, de o ter perdido aqui, da forma que foi, nos meus braços. Foi um dia muito duro, muito complicado…”, afirmou, num silêncio quase reverencial da plateia.
Esta revelação emocionou todos os presentes — entre eles antigos jogadores, dirigentes, familiares e jovens atletas do FC Porto. Muitos deixaram escapar lágrimas, conscientes da intensidade do momento e do peso histórico que carregava.
O legado do ‘Bicho’ no coração do FC Porto
Jorge Costa, apelidado carinhosamente de “Bicho”, foi durante décadas um símbolo do espírito portista: garra, liderança e paixão pelo clube. Capitão nas conquistas europeias e nacionalmente reconhecido como um dos defensores mais duros e leais da história do futebol português, o “Bicho” deixou uma marca indelével no balneário azul e branco.
André Villas-Boas destacou esse legado como pilar da formação futura do clube:
“A memória do Bicho será fundamental para inspirar os jovens atletas do FC Porto. Queremos que daqui surjam novos ‘Bichos’, com o mesmo caráter, com a mesma força e amor pela camisola”, sublinhou.
Centro Jorge Costa: o novo coração formativo dos dragões
O agora Centro de Treinos e Formação Desportiva Jorge Costa simboliza mais do que uma homenagem — é um compromisso com o futuro. Villas-Boas revelou que o espaço será o epicentro da formação portista dentro de dois anos, integrando as equipas jovens e o novo Centro de Alto Rendimento, que deverá estar pronto em breve.
“Aqui iremos decorar estas paredes com mais pujança e força. Este centro será o berço da formação portista, e o nome de Jorge Costa inspirará todos os que vestirem de azul e branco”, declarou o presidente.
Esta reestruturação é vista internamente como um passo estratégico para garantir a continuidade do ADN portista. A formação é uma das prioridades do projeto de Villas-Boas, que pretende unir passado, presente e futuro sob um mesmo símbolo: o espírito de Jorge Costa.
Um gesto de amor e reconhecimento à família
O momento mais tocante do evento aconteceu quando Villas-Boas dirigiu-se diretamente à família de Jorge Costa, com especial carinho por Estela, viúva do antigo jogador. O presidente garantiu que o clube lutará até ao fim da temporada para dedicar o título de campeão nacional à memória do eterno capitão.
“Lutámos e continuaremos a lutar por este campeonato para honrar o vosso pai, o vosso marido, o vosso filho. Querida Estela, quero que saibas que esta placa que aqui está não é nada comparado com o que o Bicho significa para o FC Porto. A sua bandeira no Dragão tem um significado muito poderoso e sentimental para nós”, afirmou.
O público respondeu com aplausos demorados, num ambiente de respeito e união entre todos os presentes. Foi um dos raros momentos em que a rivalidade do futebol deu lugar à humanidade.
Uma força da natureza que continua a inspirar
Villas-Boas recordou também a personalidade única de Jorge Costa, com traços de humor e nostalgia. Fez referência ao filho, David, que segundo o técnico “tem o mesmo caminhar inconfundível do pai”. O tom descontraído serviu como alívio numa cerimónia dominada pela emoção, mas também reforçou a ideia de continuidade — de que o espírito de Jorge Costa continua vivo nas novas gerações.
“Há algo de muito curioso no David que me faz lembrar o seu pai — o caminhar dele, inconfundível… e o cabelo encaracolado, que na juventude o Jorge trazia com orgulho. Mais velho já não trazia caracóis, trazia a sua careca à mostra”, brincou, arrancando sorrisos entre lágrimas.
Análise: Villas-Boas une emoção e liderança
Mais do que um discurso, o momento vivido no Olival demonstrou a profundidade humana e emocional de André Villas-Boas. O treinador revelou-se não apenas como um líder técnico, mas como um homem que valoriza o legado e a amizade.
Esta capacidade de unir emoção e propósito pode ser um dos motores da sua liderança no FC Porto. Villas-Boas parece determinado em usar a perda de Jorge Costa como motivação coletiva — transformar a dor em força, a saudade em inspiração.
Do ponto de vista simbólico, a mudança de nome do centro de treinos não é apenas uma homenagem póstuma; é uma reafirmação da identidade portista, baseada em lealdade, trabalho, superação e paixão.
Conclusão: o espírito de Jorge Costa viverá no FC Porto
A cerimónia no Olival ficará gravada na memória de todos os que acompanharam o percurso de Jorge Costa e do próprio FC Porto. O novo Centro de Treinos Jorge Costa é agora mais do que uma infraestrutura — é um monumento vivo à mística azul e branca.
André Villas-Boas encerrou o evento com uma mensagem que resume o sentimento coletivo:
“Obrigado, Jorge, por tudo o que nos deste. Continuarás a inspirar-nos a sermos campeões, a lutarmos com a mesma garra e coração que sempre demonstraste. A tua presença será eterna nas nossas conquistas.”
Palavras que ecoam como uma promessa: o “Bicho” pode ter partido, mas o seu espírito continuará a rugir em cada vitória portista.
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