Ministério Público investiga negócios entre Benfica e Valência: alegações de corrupção internacional e falsidade contabilística

 


MP português abre investigação a transações entre Benfica e Valência


O Ministério Público português abriu uma investigação que promete abalar o futebol europeu. Em causa estão várias transferências realizadas entre o Benfica e o Valência, clube espanhol controlado por Peter Lim, empresário de Singapura. A denúncia partiu de Miguel Zorío, ex-vice-presidente do emblema espanhol, que acusa antigos dirigentes valencianos e representantes encarnados de corrupção internacional e falsificação contabilística.


A investigação surge após anos de suspeitas sobre as movimentações financeiras entre os dois clubes, especialmente nos negócios que envolveram Rodrigo Moreno, André Gomes, Enzo Pérez e João Cancelo. De acordo com Zorío, parte significativa do dinheiro pago pelo Valência ao Benfica nunca chegou aos cofres das águias, o que levanta sérias dúvidas sobre possíveis esquemas de branqueamento e manipulação de valores.



As denúncias de Miguel Zorío e o papel do Ministério Público


Em entrevista ao jornal espanhol Levante-EMV, Miguel Zorío revelou que a investigação está a ser conduzida em cooperação entre autoridades portuguesas e espanholas. O encontro decisivo com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) ocorreu a 11 de julho, na Procuradoria-Geral da República.

Segundo o ex-dirigente, os relatórios financeiros enviados pelo Benfica à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) foram fundamentais para sustentar a denúncia. Neles, Zorío identificou incoerências que apontariam para fluxos financeiros desviados entre as partes envolvidas.


A investigação formal começou em fevereiro, quando novos documentos foram apresentados, incluindo registos de empréstimos da Meriton Holdings — empresa de Peter Lim — utilizados para financiar as contratações do Valência.


“Grande parte do dinheiro pago pelo Valência ao Benfica nunca chegou aos cofres do clube português”, declarou Zorío, reforçando as suspeitas de que o esquema servia “para injetar dinheiro nas contas da Meriton e equilibrar as finanças do Benfica”.



Negócios sob suspeita: Enzo, Cancelo, Rodrigo e André Gomes


As transferências que ligam os dois clubes aconteceram entre 2014 e 2016, período em que o Benfica realizou várias vendas de destaque para o Valência.

Zorío detalha que o clube espanhol contraiu um empréstimo de 100 milhões de euros junto da Meriton Holdings para financiar essas operações.

Segundo o denunciante:

O Valência pagou cerca de 85 milhões de euros pelos quatro jogadores, com mais 10 milhões em variáveis por Rodrigo Moreno.

Contudo, apenas 52 milhões teriam chegado aos cofres encarnados.

O restante valor teria sido canalizado por vias paralelas, envolvendo intermediários e empresas associadas a Peter Lim e ao empresário Jorge Mendes.


Zorío afirma que o objetivo dessas manobras era reforçar financeiramente a Meriton e melhorar artificialmente as contas do Benfica, numa altura em que o clube português procurava equilibrar o seu balanço financeiro para cumprir as regras da UEFA.



Possíveis implicações legais e impacto no Benfica


O caso pode ter implicações graves tanto para o Benfica como para o Valência.

Em Portugal, crimes de corrupção internacional e falsificação contabilística são severamente punidos, podendo resultar em penas de prisão e pesadas multas.

Se o Ministério Público comprovar as alegações, o Benfica poderá enfrentar sanções financeiras e desportivas, além de danos reputacionais significativos.


O envolvimento de Jorge Mendes, um dos empresários mais influentes do futebol mundial, adiciona um novo nível de complexidade. Mendes foi o responsável por intermediar muitos dos negócios entre Benfica e Valência, e a sua ligação a Peter Lim — de longa data — tem sido frequentemente questionada por falta de transparência nas transações.



Rui Costa também sob escrutínio


O atual presidente do Benfica, Rui Costa, foi recentemente constituído arguido noutro processo, também ligado a transferências internacionais.

Este novo caso diz respeito à venda do defesa argentino Germán Conti ao Lokomotiv de Moscovo, num negócio de cerca de 70 mil euros.

As autoridades investigam se a operação violou as regras europeias de transações financeiras com clubes russos, impostas após as sanções decorrentes da guerra na Ucrânia.


Apesar de os dois casos serem distintos, a proximidade temporal entre as investigações coloca Rui Costa sob forte pressão interna e externa.

Os adeptos e analistas já começam a questionar se o clube encarnado tem sido suficientemente rigoroso na gestão e transparência dos seus negócios.



Benfica defende transparência e aguarda desenvolvimentos


Até ao momento, o Benfica não fez qualquer declaração oficial sobre o caso Valência, limitando-se a reafirmar que “todas as operações financeiras foram devidamente comunicadas às entidades competentes e respeitam os regulamentos em vigor”.

Fontes próximas da direção encarnada garantem que o clube está “totalmente tranquilo” e “disposto a colaborar com as autoridades portuguesas e espanholas para esclarecer todas as dúvidas”.


No entanto, analistas financeiros e especialistas em governação desportiva sublinham que a imagem pública do Benfica volta a ser posta em causa. Depois do impacto do processo Cartão Vermelho, e das recentes acusações a Rui Costa, este novo episódio ameaça minar a credibilidade institucional conquistada nos últimos anos.



Análise: um novo teste à integridade do futebol português


O caso revela, mais uma vez, como a fronteira entre o futebol e os negócios é cada vez mais ténue.

O envolvimento de fundos, intermediários e estruturas societárias complexas — como a Meriton — cria um terreno fértil para irregularidades difíceis de rastrear.

O Ministério Público português parece agora disposto a ir mais fundo nas relações entre clubes e agentes, especialmente quando há indícios de corrupção transnacional.


Do ponto de vista jurídico, o desafio será comprovar o percurso do dinheiro — um processo que exige cooperação internacional, acesso a contas bancárias e registos empresariais em diferentes países.


Mas, no plano moral e desportivo, o impacto é imediato: a confiança dos adeptos e patrocinadores é abalada.

Se as suspeitas se confirmarem, o caso Benfica-Valência poderá tornar-se um dos maiores escândalos financeiros do futebol europeu na última década, ao lado dos episódios que envolveram clubes como Juventus, Manchester City ou Barcelona.



Conclusão: um dossiê explosivo com repercussões imprevisíveis


O futebol português entra novamente no radar judicial internacional, e o Benfica volta ao centro das atenções.

Enquanto a investigação avança, resta saber se as acusações de Miguel Zorío se traduzirão em provas concretas de corrupção e falsificação, ou se se trata apenas de uma disputa política e económica dentro do Valência.


Independentemente do desfecho, o caso já levantou uma questão essencial:


até que ponto o futebol moderno se tornou refém de interesses financeiros e de redes empresariais que ultrapassam as fronteiras do desporto?


Nos próximos meses, o Ministério Público português e as autoridades espanholas deverão dar novos passos neste dossiê explosivo, que poderá redefinir a forma como se encaram as relações entre clubes, empresários e investidores no futebol europeu.

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