Clube da Luz expõe lances favoráveis ao FC Porto e ironiza com o “calimero”
O Benfica publicou, esta terça-feira, um vídeo revelador nas suas redes oficiais que tem agitado o panorama do futebol português. Numa clara resposta às declarações de André Villas-Boas, presidente do FC Porto, os encarnados decidiram desmontar, com imagens, a narrativa de que o clube azul e branco teria sido prejudicado no clássico disputado no Estádio do Dragão, a 5 de outubro, a contar para a oitava jornada da Liga Portugal Betclic.
A publicação surge poucos dias após o dirigente portista ter deixado duras críticas à arbitragem, alegando que a sua equipa foi “injustiçada” e até anunciando uma queixa formal contra Vangelis Pavlidis, por uma alegada agressão. Contudo, o Benfica decidiu responder com factos — ou, neste caso, com imagens de lances concretos — que apontam na direção contrária.
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O vídeo do Benfica: “A realidade dos factos”
O vídeo, divulgado nas plataformas digitais do Clube da Luz, reúne sete lances que, segundo os encarnados, teriam merecido sanção disciplinar por parte do árbitro da partida, mas que acabaram por passar impunes. Para reforçar a ironia e o tom provocatório, o vídeo é intercalado com a imagem do famoso “calimero”, numa alusão direta às declarações de Villas-Boas, que recentemente chamou “calimeros” a Rui Costa e Frederico Varandas, presidentes de Benfica e Sporting.
Entre os lances destacados pelos encarnados, encontram-se:
• 7’ – Entrada dura de Gabri Veiga sobre Sudakov;
• 12’ – Cotovelada de Alan Varela sobre Pavlidis;
• 20’ – Pisão de Francisco Moura sobre Lukebakio;
• 28’ – Troca acesa de palavras entre Enzo Barrenechea e Alberto Costa, sem intervenção disciplinar;
• 36’ – Disputa física intensa entre Samu e António Silva;
• 49’ – Tentativa de desarme perigosa de Bednarek sobre Lukebakio;
• 61’ – Pepê pisa o pé de Dahl após chegar atrasado ao lance;
• 70’ – Disputa aérea de Bednarek sobre Pavlidis;
• 77’ – Novo pisão de Alan Varela sobre Sudakov.
Cada um desses episódios é acompanhado de imagens ampliadas e comentários subtis, num vídeo que não deixa margem para dúvidas quanto à intenção: contestar a narrativa portista e expor incoerências nas queixas do rival.
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André Villas-Boas e a retórica da vitimização
Desde que assumiu a presidência do FC Porto, André Villas-Boas tem adotado uma postura combativa em relação às arbitragens. Nas últimas semanas, o dirigente elevou o tom, acusando uma alegada “dualidade de critérios” que favoreceria os clubes de Lisboa. No entanto, o vídeo do Benfica parece querer colocar um ponto final nessa retórica, sugerindo que, pelo contrário, o FC Porto tem sido beneficiado em diversas decisões.
Villas-Boas, que também aproveitou a gala dos Portugal Football Globes para lançar críticas a Rui Costa e Frederico Varandas, acabou por reacender um clima de tensão institucional entre os três grandes. A expressão “calimeros”, utilizada pelo líder portista, teve agora um regresso inesperado — transformada em arma de contra-ataque pelos encarnados.
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Uma guerra de comunicação que aquece o futebol português
O episódio reflete uma tendência cada vez mais evidente no futebol nacional: a guerra de narrativas mediáticas entre os clubes. Mais do que dentro das quatro linhas, a batalha pelo controlo da opinião pública faz-se hoje nos canais oficiais, nas redes sociais e através de comunicados e vídeos estrategicamente elaborados.
O Benfica, ao publicar este vídeo, mostra que está disposto a disputar esse terreno com assertividade e até com ironia, algo que tem sido bem recebido pelos adeptos encarnados. Nos comentários à publicação, muitos adeptos elogiam a iniciativa e pedem mais “respostas com provas”.
Por outro lado, a comunicação portista deverá manter a linha dura, reforçando a ideia de que o clube é vítima de arbitragens tendenciosas. O mais provável é que a polémica se arraste durante semanas, alimentando debates e discussões entre adeptos e comentadores.
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O impacto no ambiente desportivo e institucional
Esta troca de acusações públicas entre clubes não é nova, mas volta a colocar em evidência a falta de serenidade nas relações institucionais entre os grandes do futebol português. Quando dirigentes recorrem à exposição pública de lances e ao sarcasmo, abre-se espaço para a escalada de tensões, tanto no plano mediático como nas bancadas.
Do ponto de vista desportivo, este tipo de clima pode ter efeitos psicológicos tanto sobre os jogadores como sobre as equipas de arbitragem, que passam a atuar sob uma pressão acrescida. Para o Benfica, o objetivo claro é reverter a narrativa e mostrar que o clube não se queixa sem fundamento. Já o FC Porto tenta projetar uma imagem de resistência contra o que considera ser um sistema viciado.
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Análise: mais ruído do que soluções
Embora o vídeo do Benfica seja tecnicamente bem produzido e cumpra o objetivo de marcar posição, há quem argumente que este tipo de iniciativas aumenta o ruído e pouco contribui para uma discussão construtiva sobre a arbitragem. O futebol português precisa de transparência e responsabilização, mas também de moderação e diálogo.
A constante troca de acusações cria um ambiente em que cada erro é interpretado como intencional e onde o foco se desvia do essencial: a qualidade do jogo e o mérito desportivo.
No entanto, é inegável que, em termos de comunicação estratégica, o Benfica conseguiu virar o jogo fora das quatro linhas, controlando a narrativa e expondo publicamente as contradições do discurso portista.
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Conclusão: quando o “calimero” muda de lado
O vídeo publicado pelo Benfica é mais do que uma resposta: é um golpe comunicacional que devolve o sarcasmo e expõe, com imagens, os episódios que a equipa encarnada considera injustos. Ao usar a figura do calimero, o clube da Luz demonstra que também sabe jogar no campo das perceções, usando humor e factos para defender a sua posição.
Enquanto os rivais trocam farpas e comunicados, o que fica evidente é que a guerra mediática entre Benfica, FC Porto e Sporting está mais acesa do que nunca. A arbitragem volta a ser o epicentro de polémicas e, com ela, o eterno debate sobre quem é realmente prejudicado ou beneficiado.
Seja como for, este episódio mostra que, no futebol português, as batalhas não se travam apenas no relvado — mas também nas redes, nas conferências e nos vídeos virais.
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