O Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou esta quarta-feira a aplicação de multas significativas ao Sporting e ao FC Porto, referentes aos comportamentos registados na oitava jornada da Liga Portugal Betclic. Ambas as sanções estão relacionadas com incidentes provocados pelos adeptos durante os jogos frente ao Braga e Benfica, respetivamente.
Estas decisões inserem-se na política disciplinar da FPF que visa combater atos de indisciplina, uso de pirotecnia e comportamentos considerados lesivos da imagem do futebol português.
FC Porto multado em mais de 30 mil euros
O FC Porto foi o clube mais penalizado, com um total de 30.855 euros em multas, referentes a um conjunto de infrações ocorridas durante o clássico frente ao Benfica, realizado no Estádio da Luz.
Segundo o relatório do Conselho de Disciplina, os dragões foram punidos por uso de pirotecnia nas bancadas, insultos a José Mourinho, exibição de tarjas com a mensagem “Só há um Special One” e apoio público a Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, suspenso de atividade.
Além disso, foram ainda registados casos de arremesso de objetos e intervenção indevida do speaker do clube, fatores que contribuíram para o valor elevado da coima.
A maior fatia da multa — 15.935 euros — está associada à utilização de pirotecnia, uma prática recorrente que tem levado a sanções constantes nas últimas épocas.
Consequências internas: impacto no protocolo com as claques
A penalização ao FC Porto não se resume apenas à multa financeira. De acordo com o novo protocolo entre o clube e as suas claques oficiais, os valores das sanções podem ter impacto direto na redução do número de bilhetes atribuídos aos grupos organizados de adeptos.
Segundo esse documento, uma multa desta dimensão pode originar uma redução até 50% nos bilhetes destinados aos Super Dragões e ao Coletivo 95, uma medida preventiva para travar comportamentos inadequados nas bancadas.
Esta decisão reflete a postura do FC Porto em responsabilizar os seus adeptos organizados pelos prejuízos financeiros e reputacionais causados ao clube, reforçando a necessidade de maior controlo e disciplina durante os jogos.
Sporting também multado: 8.364 euros em sanções
Por sua vez, o Sporting Clube de Portugal foi sancionado em 8.364 euros, relativos ao comportamento dos seus adeptos na partida frente ao Braga, disputada no Estádio José Alvalade.
O CD apontou uso de pirotecnia e exibição de tarjas com dimensões irregulares e fora da zona autorizada como os principais motivos para a coima. Estes dois fatores somam 6.375 euros do valor total da multa.
Além disso, o Sporting foi também penalizado por insultos dirigidos a João Moutinho, ex-jogador do clube, atualmente ao serviço do Braga, e por um atraso de três minutos no início da segunda parte, uma ocorrência atribuída a ambas as equipas.
Processo disciplinar ainda em curso
Apesar das multas já conhecidas, o Conselho de Disciplina da FPF mantém um processo disciplinar “em fase de esclarecimento” relativo ao mesmo jogo entre Sporting e Braga.
Embora o conteúdo desse processo não tenha sido divulgado, tudo indica que está relacionado com a utilização indevida de material visual e comportamentos específicos nas bancadas. O organismo deverá emitir uma decisão final nas próximas semanas.
Análise: o impacto financeiro e reputacional das multas
Num contexto desportivo cada vez mais atento ao comportamento dos adeptos, estas multas representam mais do que simples penalizações financeiras.
No caso do FC Porto, o valor ultrapassa os 30 mil euros, uma quantia significativa que reflete uma reincidência de infrações associadas a pirotecnia e cânticos ofensivos. Já o Sporting, apesar de uma coima menor, vê o seu nome envolvido em práticas semelhantes, o que reforça a necessidade de medidas educativas e preventivas junto das suas claques.
Além do aspeto económico, há uma dimensão reputacional importante: a imagem pública dos clubes é afetada, especialmente quando as infrações ocorrem em jogos de grande visibilidade, como o clássico Benfica–Porto.
A resposta dos clubes e o papel das autoridades
Tanto Sporting como FC Porto têm procurado, nos últimos tempos, melhorar a comunicação e a segurança com os seus adeptos organizados, mas os resultados mostram que ainda há um longo caminho a percorrer.
Os clubes defendem-se frequentemente com o argumento de que não conseguem controlar totalmente o comportamento individual dos adeptos, mas a FPF insiste que a responsabilidade institucional é inegociável.
Em comunicado, o Conselho de Disciplina reafirmou a sua intenção de manter tolerância zero para com práticas que ponham em causa a segurança e a integridade dos espetáculos desportivos.
Opinião: é hora de endurecer as medidas?
Os incidentes das últimas jornadas levantam uma questão pertinente: será que as multas são suficientes para travar comportamentos reiterados?
A verdade é que os valores aplicados, embora elevados, parecem não surtir o efeito desejado. Claques e adeptos continuam a recorrer à pirotecnia, e as ofensas dentro e fora dos estádios persistem.
Uma possível solução passaria pela aplicação de sanções desportivas complementares, como a redução temporária de lugares para claques, ou pela criação de programas educativos em parceria com as federações.
Caminho para um futebol mais responsável
A realidade é que a disciplina no futebol português continua a ser um desafio constante. O ambiente apaixonado que caracteriza os estádios nacionais é um ativo cultural importante, mas deve coexistir com respeito, segurança e fair play.
Tanto o FC Porto como o Sporting têm agora a oportunidade de dar o exemplo, implementando medidas que promovam comportamentos positivos nas bancadas e previnam novos episódios sancionáveis.
A aposta na educação dos adeptos, aliada a uma política de responsabilização clara, será essencial para que o futebol português possa crescer em credibilidade e profissionalismo.
Conclusão: multas como alerta para mudança
As sanções impostas pelo Conselho de Disciplina ao Sporting e ao FC Porto devem ser vistas como um aviso e não apenas uma punição.
Mais do que os valores monetários, está em causa a necessidade de preservar a imagem do futebol nacional e de garantir um ambiente seguro e civilizado nos estádios.
Cabe agora aos clubes refletirem sobre o impacto destas multas e reforçarem o compromisso com a autorregulação e o comportamento responsável das suas claques.
Se não houver mudanças estruturais e culturais, as penalizações continuarão a repetir-se, com consequências cada vez mais graves — tanto para os cofres dos clubes como para a reputação do futebol português.
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