Rui Costa sob investigação: transferência de Germán Conti para a Rússia levanta suspeitas no DCIAP


Uma transferência de 70 mil euros que gerou polémica.


O nome de Rui Costa, presidente do Sport Lisboa e Benfica, voltou a surgir nas manchetes, desta vez por motivos que ultrapassam o futebol. O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) está a investigar uma transferência de 70 mil euros associada ao negócio que levou o defesa argentino Germán Conti ao Lokomotiv Moscovo, em janeiro de 2023.

Segundo informações avançadas pelo Correio da Manhã, a operação poderá ter violado a legislação europeia, que proíbe, desde 2022, transações financeiras com clubes ou entidades da Rússia, na sequência das sanções impostas pela União Europeia após a invasão da Ucrânia.


Rui Costa vai ser interrogado e constituído arguido


O líder encarnado será interrogado pelo DCIAP e constituído arguido como representante da SAD do Benfica. A investigação centra-se na alegada receção de 70 mil euros, quantia que terá sido transferida numa altura em que todas as operações financeiras com clubes russos estavam congeladas.

De acordo com a mesma fonte, Rui Costa já havia pedido um adiamento do interrogatório em julho, por coincidir com a apresentação oficial do plantel encarnado para a nova temporada. Agora, o dirigente terá de prestar esclarecimentos sobre o negócio e a origem do dinheiro.


Transação anulada, mas suspeitas mantêm-se


Apesar de a SAD do Benfica ter identificado a irregularidade e devolvido o montante recebido, as autoridades judiciais mantêm a investigação ativa. O objetivo é determinar se houve violação das sanções europeias ou branqueamento de capitais, um crime grave previsto no Código Penal português.

Fontes próximas do processo indicam que o DCIAP quer apurar se a transferência foi uma tentativa deliberada de contornar as restrições europeias ou se resultou de um erro administrativo. A devolução do dinheiro poderá atenuar responsabilidades, mas não elimina a necessidade de apurar a intenção e a legalidade da operação.


Contexto do negócio: um jogador fora dos planos


O argentino Germán Conti, contratado pelo Benfica em 2018, nunca conseguiu afirmar-se na Luz. Em cinco anos de contrato, fez apenas 12 jogos oficiais: 10 pela equipa principal e 2 pela equipa B.

Entre 2020 e 2022, foi sucessivamente emprestado ao Atlas (México), Bahia e América Mineiro (Brasil), antes de ser transferido em definitivo para o Lokomotiv Moscovo, em janeiro de 2023.

Foi neste contexto que o clube russo realizou o pagamento de 70 mil euros ao Benfica, levantando agora dúvidas sobre a origem, o canal e a legalidade dessa transação.


Legislação europeia e o embargo à Rússia


Desde fevereiro de 2022, a União Europeia aplicou um conjunto de sanções financeiras à Rússia, incluindo a proibição de transações bancárias e comerciais com entidades ligadas ao Estado russo ou sediadas no país.

Essas medidas visam isolar economicamente Moscovo e impedir que clubes russos participem em negociações internacionais sem supervisão. Qualquer movimento financeiro para ou da Rússia carece de autorização prévia, sob pena de violar o Regulamento (UE) n.º 269/2014, que estabelece as sanções em vigor.


No caso em análise, o pagamento de 70 mil euros terá sido realizado sem autorização das autoridades competentes, colocando o Benfica — e, por extensão, Rui Costa, enquanto presidente da SAD — sob escrutínio judicial.


DCIAP investiga possível branqueamento de capitais


Para além da violação das sanções internacionais, a investigação do DCIAP quer determinar se houve indícios de branqueamento de capitais. Este tipo de crime consiste em ocultar ou disfarçar a origem ilícita de valores financeiros, prática punível com penas de prisão e coimas elevadas.

Caso se prove que a transação foi uma tentativa de “lavar” dinheiro através de um negócio aparentemente legítimo, as consequências poderão ser graves para o clube e para os seus dirigentes.


Impacto na imagem de Rui Costa e do Benfica


Este caso surge num momento delicado para Rui Costa, que tem procurado reorganizar o Benfica após uma fase de instabilidade interna e forte escrutínio público.

Embora a direção encarnada afirme que a quantia foi devolvida e que o clube está a cooperar com as autoridades, a mera existência de uma investigação criminal gera danos reputacionais e fragiliza a confiança dos adeptos e investidores.

A transparência e rigor financeiro são hoje critérios fundamentais para a credibilidade de qualquer SAD, e qualquer suspeita de irregularidade pode comprometer a imagem institucional construída nos últimos anos.


Opinião: mais um teste à transparência do futebol português


Este episódio reflete uma realidade preocupante no futebol português: a persistência de negócios pouco claros, realizados muitas vezes através de intermediários ou em mercados de risco, sem o devido controlo jurídico.

Ainda que o Benfica possa ter agido de boa-fé ao devolver o valor após detetar a irregularidade, o caso mostra a necessidade urgente de reforçar os mecanismos de compliance e supervisão financeira nas SAD portuguesas.

Os clubes têm de garantir que qualquer transação cumpre as normas europeias e internacionais, evitando situações que possam gerar investigações criminais ou suspeitas de corrupção.


Consequências possíveis e próximos passos


Nas próximas semanas, Rui Costa deverá prestar declarações ao DCIAP. A partir desse momento, o Ministério Público decidirá se avança com uma acusação formal ou se arquiva o processo, caso se confirme a inexistência de dolo.

Para já, o Benfica mantém uma postura de colaboração com as autoridades e garante que a operação foi corrigida de imediato. Contudo, a exposição mediática do caso poderá ter impacto na confiança dos patrocinadores, investidores e adeptos.


Conclusão: um alerta para o futuro


A investigação à transferência de Germán Conti deve servir como alerta não apenas para o Benfica, mas para todo o futebol português. Em tempos de sanções internacionais rigorosas, qualquer erro administrativo pode transformar-se num caso judicial com repercussões sérias.

Cabe aos clubes adotar políticas de controlo interno mais robustas, com consultoria jurídica especializada, para garantir que nenhuma operação financeira viole a lei.

Quanto a Rui Costa, caberá à justiça determinar se houve mera irregularidade ou intenção de infringir as regras. Até lá, a presunção de inocência mantém-se — mas o episódio deixa uma mancha de dúvida sobre a gestão financeira da Luz.

Enviar um comentário

0 Comentários