Tribunal dinamarquês poupa Andreas Schjelderup com pena suspensa em caso que envolveu conteúdo sexual com menores. O futebol agiu mais rápido que a justiça?
A justiça dinamarquesa ditou a sua sentença, e esta parece enviar uma mensagem perigosa: o talento com os pés pode, aparentemente, abrandar a mão da lei. Andreas Schjelderup, a jovem promessa norueguesa do Benfica, foi esta quarta-feira condenado a 14 dias de prisão... suspensa. Sim, leu bem. Suspensa.
O veredicto do Tribunal Municipal de Copenhaga surge como um alívio para o jogador e, decerto, para a estrutura do clube da Luz, mas deixa um sabor amargo de impunidade. O Ministério Público dinamarquês não foi tão brando: pedia uma pena efetiva de prisão entre 20 a 30 dias, um castigo que refletisse a gravidade dos factos.
E que factos são estes? O caso, que veio a público pelas mãos do próprio atleta, revolve em torno da partilha de conteúdo de cariz sexual que envolvia menores de idade. Schjelderup, na altura, veio a terreiro admitir a ilegalidade do seu ato, num gesto de contrição que, na prática, parece ter surtido o efeito desejado junto do tribunal.
"O que fiz foi ilegal. Espero ser condenado e receber uma pena suspensa", disse o atleta na época. O seu desejo foi concedido à letra. A sua declaração de culpa, estrategicamente partilhada nas suas redes sociais, atuou como o melhor dos advogados. O sistema judicial pareceu sussurrar: "Reconheceu o erro, está arrependido, pode continuar a jogar".
O que vale mais: um passe de génio ou a proteção de menores?
A questão que se coloca, e que o futebol português e internacional preferirá ignorar, é esta: Se um cidadão comum, sem um contrato milionário e sem a camisola de um gigante europeu às costas, tivesse cometido o mesmo crime, o desfecho seria igual? A justiça é verdadeiramente cega quando um dos arguidos é um ativo de 15 milhões de euros?
Enquanto o processo corria nos corredores do tribunal na Dinamarca, Schjelderup continuou a sua vida normal em Lisboa: a treinar, a jogar, a marcar golos. Nos 815 minutos que disputou esta época com o Manto Sagrado, conseguiu dois golos e duas assistências. Números que, aparentemente, pesam mais na balança da justiça desportiva do que o conteúdo do processo que trazia a ferros.
O Benfica, clube que se gaba de ter valores além do futebol, vê-se agora com um ativo desportivo "limpo" judicialmente, mas com uma nódoa ética que uma pena suspensa não apaga. A mensagem é clara: no universo paralelo do futebol de alto rendimento, as consequências são, demasiadas vezes, suspensas.
O caso de Andreas Schjelderup chegou ao fim nos tribunais. Mas a discussão sobre os privilégios dos atletas de elite e a seletividade da justiça acaba de ser reaberta. E desta vez, a bola está no campo da opinião pública.

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