Rui Borges reforça confiança em Salvador Blopa e Flávio Gonçalves após triunfo sobre o Marinhense

 


O triunfo por 3-0 diante do Marinhense, para a Taça de Portugal, não foi apenas mais um jogo tranquilo para o Sporting. Para Rui Borges, foi mais um passo no reforço de duas convicções que o técnico leonino tem vindo a amadurecer: Salvador Blopa e Flávio Gonçalves não são apenas “jovens da Academia”, são soluções reais para o presente. A forma direta como o treinador elogiou os dois prodígios voltou a expor aquilo que muitos têm ignorado — o clube tem talento para ser usado agora, e não apenas vendido amanhã.


Nesta temporada marcada por lesões, oportunidades estão a surgir de forma quase forçada. Mas o discurso do técnico do Clube de Alvalade vai além de uma simples necessidade: ele está a preparar terreno para uma nova filosofia. Uma filosofia que, se for coerentemente seguida, pode tornar o Sporting mais competitivo e, sobretudo, mais sustentável no futuro imediato.



A afirmação silenciosa de Salvador Blopa


O nome que mais saltou à vista após o encontro perante o Marinhense foi Salvador Blopa. Não por ter feito um golo, mas por continuar a colecionar ações objetivas e constantes. Numa equipa grande, o jovem “camisola 58” não precisa apenas de talento: precisa de fiabilidade. E isso ele tem dado repetidamente.


Blopa somou mais uma assistência, exibiu qualidade de cruzamento frente a um bloco baixo e foi citado por Rui Borges como alguém que corresponde “às expetativas, como todos”. Aqui fica claro um ponto subentendido: o treinador está a assumir, publicamente, que já vê o extremo como peça pronta para competir em qualquer contexto.


Palavras como “tirou muitos cruzamentos com muita qualidade” não são elogios superficiais, são indicadores de que o atleta está a cumprir funções táticas com maturidade. Quando um treinador descreve o modo de jogar de um jovem em termos específicos — cruzamentos, leitura contra bloco baixo, decisão no último terço — isso significa que ele está a avaliá-lo como opção, não como promessa.



Flávio Gonçalves: perfil diferenciado para não desperdiçar


Ao falar de Flávio Gonçalves, Rui Borges foi ainda mais sintético e, curiosamente, mais incisivo: “É diferenciado”. Poucos treinadores no futebol português utilizam essa palavra para um jogador sem intenção deliberada. Um atleta diferenciado, em linguagem interna de balneário, é aquele que possui elementos técnicos ou intelectuais que fogem à média da sua posição e da sua idade.


O treinador acrescentou que a equipa vai “socorrer-se deles, com o tempo, não apenas nas Taças mas noutras competições também”. Esta frase, aparentemente inofensiva, carrega um peso estratégico: indica que o Sporting não está apenas a testar jovens, está a integrá-los na rota competitiva da equipa A. Quem percebe o contexto sabe que isso dificilmente é dito sem que exista verdadeira intenção do clube.


Se essas palavras correspondem à realidade, Flávio Gonçalves deverá ser usado de forma progressiva no campeonato, algo que raramente acontece num clube que luta por títulos. E é precisamente essa aposta que distingue projetos vencedores dos apenas reativos.



Lesões: oportunidade ou desculpa?


Rui Borges falou da “importância das baixas” para acelerar ascensões internas. E aqui surge o ponto crítico que o treinador deixou implícito: as lesões abrem portas, mas o jogador só se mantém se for competente. O técnico demonstrou que não está a colocar jovens por necessidade, mas sim porque confia na resposta deles.


Muitos clubes utilizam a narrativa da Academia apenas como marketing, enquanto continuam dependentes de contratações caras e de jogadores com estatuto. O Sporting, pelo contrário, tem a oportunidade de transformar contingência em identidade. E Rui Borges está a dar o primeiro passo ao demonstrar que estes atletas não entram em campo “para não ficar mal”, mas porque estão no nível exigido.



A gestão de Francisco Trincão: um exemplo de exigência interna


Outro ponto que não pode passar despercebido foi a escolha técnica sobre Trincão. Depois de ter sido poupado na Seleção, o avançado não só jogou, como foi decisivo com dois golos. Rui Borges destacou a frescura física e mental do jogador, mas também lançou um aviso implícito: talento não dispensa responsabilidade.


O treinador elogiou o facto de Trincão não cair “em excessos”, numa crítica indireta a jogadores virtuosos que confundem criatividade com irresponsabilidade. O elogio, portanto, foi condicionado: jogou porque pediu para jogar, esteve sério, mereceu os golos. Ou seja, talento só vale se vier acompanhado de atitude competitiva. Mais uma mensagem interna para o balneário.



Ambição declarada: não é discurso, é cobrança


No final, Rui Borges voltou a frisar o que sente enquanto treinador do Sporting: está a viver o seu sonho, quer ganhar tudo e deseja permanecer longos anos em Alvalade. Pode parecer romântico, mas carrega outro subtexto: não basta “estar feliz”, é preciso entregar troféus.


A frase “Se ficasse aqui dez anos, era o treinador mais feliz do mundo” manifesta apego, mas a que se segue revela exigência: “Continuo a querer ganhar a Taça da Liga e a Supertaça, que ainda não ganhei”. Isto expõe uma motivação competitiva, não afetiva. A felicidade só existe se for alimentada por conquistas.



Conclusão: o Sporting tem mais do que promessas, tem soluções


Blopa e Flávio Gonçalves não estão a ser utilizados como argumento para os adeptos “acalmarem”. Rui Borges está a colocá-los em posição de responsabilidade e avaliando-os com rigor de equipa grande. Isso não é comum no futebol português, onde muitos jovens acabam usados apenas como moeda de valorização financeira.


Se o treinador cumprir o que diz, o Sporting ganha profundidade, ganha identidade e ganha capacidade de competir em todas as frentes com menos dependência de mercado. Esses jovens deixam de ser promessas para se tornarem parte ativa do projeto.


O próximo passo é simples: deixá-los errar, aprender e crescer onde realmente importa — dentro de campo, com a exigência do símbolo que carregam. Porque talento sem minutos é só publicidade. E minutos, ao que parece, é exatamente o que Rui Borges está disposto a dar.

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