António Salvador reclama protagonismo do Braga na Europa e critica sistema do futebol português

 


O papel do Braga na afirmação do futebol português na Europa


Presidente minhoto defende que o Braga tem sustentado o prestígio nacional nas competições europeias e alerta para os riscos do ranking da UEFA


No encerramento do Portugal Football Summit, realizado no dia 11 de outubro, António Salvador, presidente do Sporting Clube de Braga, voltou a marcar posição no panorama do futebol nacional. O dirigente bracarense, conhecido pelo seu discurso direto e pela defesa intransigente dos interesses do clube, abordou com firmeza o estado atual do futebol português, a presença das equipas nacionais nas competições europeias e o papel que o Braga tem desempenhado nesse contexto.


Segundo Salvador, o Braga tem sido uma das peças-chave para a manutenção do prestígio de Portugal no ranking da UEFA. O líder minhoto afirmou, sem rodeios, que “é por causa do Braga que o Benfica e os outros clubes podem participar na Liga dos Campeões”, uma declaração que reflete não apenas o orgulho no trabalho realizado, mas também uma crítica implícita à dependência dos resultados dos chamados “três grandes”.



Resultados que falam por si: o Braga como exemplo de competência


O presidente destacou o desempenho exemplar da sua equipa nas últimas épocas, referindo que, em oito jogos europeus recentes, o Braga somou sete vitórias e um empate. “Temos feito o nosso caminho. O nosso rendimento fala por si”, sublinhou Salvador, evidenciando que o clube tem conseguido resultados expressivos mesmo com recursos muito inferiores aos de Benfica, Porto e Sporting.


Esses resultados, segundo o dirigente, são fundamentais para que Portugal mantenha posições de destaque no ranking europeu de clubes, que determina o número de vagas diretas e de qualificação para as provas da UEFA. “Vai depender do que nós e os outros fizerem para podermos ficar com o sexto lugar. Caso contrário, podemos cair e ser obrigados a disputar ainda mais fases de qualificação”, alertou.



O alerta sobre o ranking da UEFA e a desigualdade estrutural


António Salvador mostrou-se particularmente preocupado com a diminuição do coeficiente português no ranking da UEFA. Atualmente, Portugal ocupa uma posição de risco que pode, num futuro próximo, reduzir o número de equipas na Liga dos Campeões e na Liga Europa.


“É inconcebível o Braga ter de fazer seis jogos para chegar à fase de grupos da Liga Europa”, lamentou o dirigente. Segundo ele, esta exigência é um reflexo direto da falta de competitividade global do futebol português e da dependência dos resultados de poucos clubes. “O sistema está mal desenhado. Os clubes que trabalham de forma estruturada, como o Braga, acabam penalizados por erros que não são seus.”


A crítica de Salvador vai além do desporto: reflete também a ausência de políticas de valorização e equidade no futebol nacional. O presidente defende que é preciso reformar o modelo competitivo e investir na sustentabilidade dos clubes médios, que muitas vezes são responsáveis por carregar o nome de Portugal nas provas da UEFA.



Braga: duas décadas de presença europeia constante


Ao fazer um balanço das últimas duas décadas, António Salvador recordou que o Braga tem sido uma presença assídua nas competições europeias, algo que poucos clubes portugueses conseguem afirmar. “Se for analisar, o Braga nas últimas duas décadas esteve permanentemente nas competições da UEFA. Há dois anos estivemos na Liga dos Campeões”, frisou.


De facto, o Braga tem construído um percurso notável, consolidando-se como o quarto clube português mais regular a nível europeu. Desde o início dos anos 2000, o clube tem participado em mais de 150 jogos internacionais, chegando inclusive à final da Liga Europa em 2011, e tornando-se um nome respeitado no futebol continental.


Essa consistência é o resultado de uma gestão estável, uma política de formação sólida e uma estratégia financeira rigorosa. Salvador tem apostado num modelo sustentável, sem depender de grandes investidores externos, algo que considera essencial para a independência e credibilidade do clube.



A luta contra o centralismo dos “três grandes”


Durante a sua intervenção, o líder bracarense não poupou críticas ao centralismo do futebol português, dominado historicamente pelos clubes de Lisboa e Porto. Segundo ele, a narrativa mediática e as estruturas de decisão continuam a favorecer os grandes em detrimento dos restantes.


“Enquanto não houver uma visão de conjunto, o futebol português vai continuar a crescer de forma desequilibrada. Há clubes a trabalhar muito bem e que merecem respeito. O Braga é um desses exemplos”, afirmou Salvador.

Estas palavras refletem a sua longa batalha por um futebol mais justo e meritocrático, em que o desempenho e a gestão responsável sejam valorizados acima do peso histórico dos emblemas.



Braga como modelo de gestão e competitividade


Mais do que resultados desportivos, António Salvador tem procurado transformar o Braga num modelo de gestão profissional. Sob o seu comando, o clube investiu em infraestruturas modernas, como a Cidade Desportiva, reforçou o departamento de scouting e valorizou a formação de talentos que têm alimentado o plantel principal e gerado lucro com transferências.


O presidente sublinha que a estabilidade institucional e a visão de longo prazo são fatores essenciais para que clubes fora do eixo tradicional possam competir com sucesso. “Não basta ter dinheiro, é preciso ter projeto. E o Braga tem um projeto claro e sustentável”, reforçou.



Opinião: o mérito de quem faz muito com pouco


A postura de António Salvador pode ser vista, ao mesmo tempo, como orgulhosa e necessária. Orgulhosa porque o Braga, de facto, tem conquistado o seu espaço na Europa sem depender de favores ou estruturas externas. Necessária porque o futebol português precisa de vozes que denunciem o desequilíbrio estrutural e defendam um modelo competitivo mais aberto.


Num cenário em que os “grandes” concentram a maioria das receitas televisivas, dos patrocínios e da atenção mediática, clubes como o Braga, o Vitória SC ou o Famalicão acabam por lutar contra um sistema desigual. Ainda assim, o Braga mostra que é possível desafiar a lógica estabelecida com trabalho, planeamento e ambição.



Conclusão: o desafio de consolidar Portugal entre os melhores


A intervenção de António Salvador no Portugal Football Summit não foi apenas um desabafo — foi um alerta estratégico. O futebol português encontra-se numa fase decisiva: precisa de preservar o seu lugar entre os seis primeiros do ranking da UEFA para manter três equipas na Liga dos Campeões e garantir visibilidade internacional.


O Braga, com o seu percurso consistente e profissional, tem sido um dos principais motores desse sucesso coletivo, embora nem sempre receba o reconhecimento merecido. A crítica de Salvador é, portanto, um chamamento à responsabilidade: se o futebol português quiser continuar a crescer, terá de apoiar e valorizar todos os clubes que contribuem para o seu prestígio, e não apenas os que ocupam as manchetes.

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