Introdução
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) voltou a estar no centro das atenções após declarações recentes de Rui Costa sobre um alegado “mapeamento clubístico” dentro dos órgãos sociais da instituição. A acusação levantou polémica e gerou debate no mundo do futebol português. No entanto, Pedro Proença, presidente da FPF, foi rápido a reagir. Durante a sua intervenção no Portugal Football Summit, o dirigente negou qualquer tipo de favorecimento interno, garantindo que a instituição é regida por princípios de competência, independência e transparência.
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A polémica que agitou o futebol português
Nos últimos dias, as declarações de Rui Costa, presidente do Benfica, incendiaram o debate público. O líder encarnado considerou “grave” que possa existir um “mapeamento clubístico” nos órgãos sociais da FPF, insinuando que as decisões internas poderiam estar a ser influenciadas por preferências clubísticas.
A resposta não tardou. Pedro Proença, visivelmente tranquilo e confiante, procurou desdramatizar a situação, negando categoricamente qualquer prática desse género:
“Não há qualquer mapeamento clubístico. Vamos lá ver se nos entendemos. Quando existiu o processo eleitoral, toda a gente sabe — é do conhecimento público — as tendências clubísticas, políticas ou até religiosas dos candidatos”, afirmou o presidente da FPF.
Com estas palavras, Proença procurou esclarecer que a composição da Federação é transparente e que o processo eleitoral decorreu de forma aberta, sem segredos ou manipulações de bastidores.
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A defesa da competência e do mérito
Durante a sua intervenção no evento, Pedro Proença sublinhou que as escolhas feitas para os altos cargos da Federação foram baseadas apenas na competência técnica e profissional dos candidatos.
“A FPF tem nos seus altos quadros pessoas altamente competentes e foi isso que se procurou quando se escolheu esta candidatura — pessoas capazes de desenvolver projetos de excelência, como este evento reconhecido mundialmente”, destacou.
Este argumento remete para uma visão moderna de gestão desportiva, onde o foco é a profissionalização do futebol português e a implementação de boas práticas internacionais. A mensagem de Proença vai ao encontro da estratégia que tem vindo a ser seguida nos últimos anos: afastar a política e as paixões clubísticas da estrutura organizacional da FPF.
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Uma “nova página” na FPF
Pedro Proença fez questão de destacar que a FPF atravessa um novo ciclo. Um ciclo marcado por regras claras de compliance, ética e transparência — conceitos fundamentais na gestão moderna de instituições desportivas.
“Há uma página nova na FPF, nomeadamente nas regras de compliance e boas práticas. Hoje as pessoas são independentes”, sublinhou o dirigente.
Este tipo de discurso reforça a ideia de que a FPF pretende construir uma imagem sólida e internacionalmente respeitada, livre de interferências externas. O próprio Proença lembrou que tem quase três décadas de experiência no futebol e que sempre agiu de forma ética:
“Passei por áreas muito delicadas, difíceis, mas nunca escondi quais eram as minhas opções.”
Com isto, o presidente da FPF quis demonstrar coerência e credibilidade — duas virtudes essenciais num período em que o futebol português enfrenta críticas constantes sobre imparcialidade e gestão.
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Entre a política e o futebol: uma linha ténue
O tema do “mapeamento clubístico” revela, mais uma vez, a fragilidade da relação entre clubes e instituições. Em Portugal, as fronteiras entre a política desportiva e a rivalidade clubística nem sempre são claras. As críticas de Rui Costa — e as respostas de Pedro Proença — evidenciam que há uma tensão latente entre o Benfica e os organismos de poder do futebol nacional, numa altura em que a liderança federativa tenta afirmar-se como neutra e independente.
A questão central é simples, mas complexa de resolver: como garantir a total imparcialidade numa estrutura onde quase todos têm ligações históricas a clubes?
Proença tenta responder com pragmatismo: a prioridade deve ser o trabalho e os resultados, não a filiação clubística.
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A visão estratégica de Proença para o futuro da FPF
Além de responder à polémica, o presidente da FPF aproveitou a ocasião para reforçar a visão estratégica da instituição. A Federação tem investido fortemente em formação, tecnologia e eventos internacionais, tornando-se uma referência em termos de organização e gestão desportiva.
Os exemplos são vários: o Campus da FPF na Cidade do Futebol, o crescimento do futebol feminino, os projetos de arbitragem digital e a modernização das competições nacionais.
Esses projetos são, segundo Proença, a verdadeira prova do sucesso da FPF: “Aquilo que me apraz registar, enquanto presidente, é que hoje temos competência, pessoas independentes e um modelo de gestão moderno que não vou abdicar.”
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A resposta implícita ao Benfica e aos críticos
As palavras de Pedro Proença foram medidas, mas firmes. O dirigente evitou confrontar diretamente Rui Costa, preferindo responder de forma institucional. Ainda assim, ficou claro que o presidente da FPF vê nas críticas um ataque indireto à legitimidade da sua liderança.
A postura de Proença — serena, mas determinada — contrasta com o clima de tensão entre clubes e organismos. Num futebol cada vez mais mediático e polarizado, o presidente da FPF tenta manter-se acima das polémicas, defendendo que a credibilidade da instituição é inegociável.
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Análise: uma questão de credibilidade
Em análise, o episódio revela dois pontos importantes.
Primeiro, a necessidade de reforçar a confiança entre clubes e instituições. O futebol português tem um histórico de desconfiança mútua, e qualquer insinuação de favoritismo rapidamente se transforma em tempestade mediática.
Segundo, o desafio da FPF é provar que as decisões internas são baseadas apenas em critérios objetivos — algo que exige transparência total, comunicação clara e consistência nas ações.
Pedro Proença parece consciente dessa responsabilidade. A sua estratégia passa por blindar a FPF de polémicas e focar-se na consolidação de uma imagem de profissionalismo, à semelhança das federações europeias mais respeitadas.
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Conclusão: independência como valor essencial
No final, a mensagem de Pedro Proença foi clara: a FPF é independente e continuará a sê-lo. A polémica sobre o “mapeamento clubístico” pode até servir como um teste à solidez institucional da Federação, mas também como uma oportunidade para reafirmar o caminho da transparência e da competência.
Em tempos em que o futebol português vive dividido entre paixões e suspeitas, o desafio é manter o equilíbrio e garantir que o mérito continue a ser o critério supremo.
Pedro Proença sabe que a credibilidade da FPF depende disso — e parece disposto a defendê-la até ao fim.
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