
A aventura de João Mário na Juventus está longe de ser o conto de fadas que muitos esperavam. O lateral-direito português, transferido do FC Porto para o gigante italiano no último mercado de verão, tem vivido semanas complicadas em Turim. A imprensa italiana, conhecida pela sua exigência e escrutínio implacável, já o apelida de “flop de 11 milhões”, destacando a falta de impacto do jogador nas primeiras jornadas da temporada.
De acordo com o Calciomercato, “Juventus, o flop de mais de 11 milhões já está servido: apenas duas partidas como titular”, o português soma apenas 319 minutos desde a sua chegada, número considerado insuficiente para um atleta que custou 11,4 milhões de euros, mais 1,2 milhões em encargos adicionais.
Aos 25 anos, João Mário assinou contrato até junho de 2030, mas o seu arranque na Serie A levanta dúvidas sobre a adaptação ao futebol italiano e à exigência tática de Igor Tudor, treinador dos bianconeri.
Um início tímido em Turim
João Mário participou em duas partidas como titular — frente ao Génova e ao Verona — e foi suplente utilizado em mais cinco jogos, incluindo a recente partida da Liga dos Campeões contra o Villarreal. A sua entrada em campo nessa ocasião deveu-se apenas à lesão de Juan Cabal, o que evidencia a sua posição secundária na hierarquia da equipa.
A adaptação de jogadores portugueses ao futebol italiano nem sempre é fácil, sobretudo quando as exigências táticas são tão específicas como as de Igor Tudor. A Juventus privilegia laterais com inteligência posicional e capacidade defensiva elevada, algo que a imprensa italiana diz ainda não ter sido plenamente demonstrado por João Mário.
As críticas da imprensa italiana
Os meios de comunicação italianos foram duros nas suas avaliações. O Calciomercato destacou que o português “ainda não convenceu, nem ofensiva nem defensivamente”, enquanto o Tuttosport afirmou que o ex-jogador do FC Porto “tem mostrado dificuldades em acompanhar o ritmo e o rigor tático exigido”.
Essas críticas não se limitam à sua performance dentro de campo, mas também ao facto de o jogador ainda não ter criado uma ligação sólida com os adeptos. A Juventus é um clube de enorme pressão mediática, e qualquer contratação milionária que não apresente resultados imediatos torna-se rapidamente alvo de escrutínio.
O peso do investimento e a paciência dos adeptos
A Juventus pagou 11,4 milhões de euros por João Mário, um valor significativo para um lateral-direito que chega de um campeonato menos mediático como o português. O investimento elevou as expectativas, e os adeptos esperavam um reforço capaz de competir de imediato por um lugar no onze.
Contudo, até agora, o jogador ainda não justificou o investimento, e os jornais italianos alertam que o clube pode procurar soluções alternativas já em janeiro. “É urgente remediar esta situação”, escreveu o Calciomercato, sugerindo que a Juventus poderá ir ao mercado de inverno para reforçar o setor defensivo.
Dificuldades de adaptação e fatores táticos
As dificuldades de João Mário podem ser explicadas por diversos fatores. Em primeiro lugar, a diferença tática entre o futebol português e o italiano é profunda. Enquanto em Portugal os laterais têm maior liberdade ofensiva, na Serie A o foco é a organização defensiva e a disciplina posicional.
Além disso, Igor Tudor utiliza frequentemente um sistema com três centrais e dois alas, exigindo que os laterais tenham grande capacidade de resistência e consciência tática. João Mário, habituado a jogar num 4-4-2 ou 4-3-3 no FC Porto, parece ainda estar em processo de adaptação ao novo modelo.
Outro ponto é o nível físico. A Serie A é um campeonato mais intenso e exigente fisicamente, e o lateral português tem mostrado alguma dificuldade em acompanhar o ritmo, especialmente nos duelos defensivos.
O contraste com a passagem pelo FC Porto
No FC Porto, João Mário foi uma das revelações das últimas épocas. Sob o comando de Sérgio Conceição, destacou-se pela sua agressividade defensiva, velocidade e entrega, tendo sido peça-chave em várias conquistas. A sua transição para o futebol italiano parecia natural, mas as diferenças estruturais entre as equipas estão agora a evidenciar-se.
No Porto, o português beneficiava de um modelo mais direto e vertical, com liberdade para subir no terreno e apoiar o ataque. Na Juventus, porém, a prioridade é a segurança defensiva e o cumprimento rigoroso das funções táticas, o que parece limitar a sua expressão em campo.
O papel de Igor Tudor e a gestão da confiança
A gestão de Igor Tudor será crucial para o futuro de João Mário em Turim. O treinador croata tem fama de ser exigente e pouco paciente com jogadores que demoram a adaptar-se ao seu sistema.
Se Tudor continuar a apostar em laterais mais sólidos defensivamente, como Danilo ou Juan Cabal, João Mário poderá continuar a perder espaço. No entanto, há também quem acredite que o técnico poderá dar mais tempo ao português, reconhecendo o seu potencial ofensivo e a sua capacidade de trabalho.
A recuperação de confiança será fundamental. Jogadores estrangeiros que chegam à Serie A muitas vezes precisam de meia época de adaptação antes de começarem a render o esperado — e João Mário ainda tem tempo para dar a volta por cima.
Opinião: é cedo para rotular de “flop”
Embora as críticas da imprensa italiana sejam compreensíveis, classificá-lo já como um “flop” é precipitado e injusto. João Mário tem apenas 25 anos, está numa fase inicial da sua aventura em Itália e enfrenta uma adaptação cultural e tática profunda.
Muitos jogadores portugueses, como João Cancelo ou Diogo Dalot, também enfrentaram críticas na sua chegada a ligas estrangeiras, apenas para mais tarde se tornarem referências nas suas posições. O mesmo pode acontecer com João Mário, desde que tenha tempo, apoio e continuidade.
A Juventus precisa de estabilidade e de uma política de paciência, especialmente num contexto de reconstrução da equipa. O lateral português ainda pode afirmar-se, mas depende da sua capacidade de evoluir defensivamente e de adaptar o seu estilo às exigências da Serie A.
O que esperar do futuro
Com o mercado de janeiro à porta, a Juventus enfrenta uma decisão: dar tempo a João Mário ou procurar uma alternativa imediata. Tudo dependerá da sua evolução nas próximas semanas. Se aproveitar as oportunidades, poderá reconquistar a confiança do treinador e da crítica.
Em Turim, a paciência é curta, mas os grandes clubes sabem que a qualidade leva tempo a afirmar-se. João Mário terá de demonstrar que é capaz de aprender com os erros, melhorar defensivamente e ser o jogador que a Juventus esperava quando investiu mais de 11 milhões de euros.
O caminho é difícil, mas não impossível. E se há algo que João Mário mostrou no FC Porto foi resiliência e capacidade de superação — qualidades que podem ser decisivas para mudar o rumo da sua história em Itália.
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