Um reforço que escapou às águias
Thiago Almada foi um dos nomes mais falados no mercado de transferências do Benfica no último verão. O médio argentino, criativo, versátil e com grande margem de progressão, era visto como uma verdadeira oportunidade de luxo para reforçar o plantel encarnado. No entanto, o destino seguiu outro rumo. Almada decidiu trocar a possibilidade de jogar na Luz pela capital espanhola, assinando pelo Atlético Madrid. Esta escolha, que inicialmente gerou surpresa, começa agora a fazer sentido à luz dos acontecimentos recentes.
No último sábado, o argentino foi decisivo ao apontar o golo solitário da vitória dos colchoneros frente à Osasuna (1-0). Uma exibição que deixou bem claro por que motivo Diego Simeone insistiu na sua contratação e por que razão o Benfica perdeu não apenas um reforço, mas uma potencial figura de destaque na Liga portuguesa.
Atlético Madrid vs Benfica: duas realidades distintas
A decisão de Almada em rumar ao Atlético Madrid foi amplamente debatida entre os adeptos benfiquistas. Por um lado, o Benfica oferecia-lhe um projeto ambicioso, com espaço para brilhar e assumir protagonismo imediato. Por outro, o Atlético Madrid apresentava o desafio de competir numa das ligas mais intensas do mundo, sob o comando de um treinador conhecido por exigir disciplina e entrega absoluta.
Do ponto de vista desportivo, Almada escolheu a via mais difícil, mas também a mais desafiante. Aceitou lutar por minutos num plantel recheado de talento, com jogadores como Antoine Griezmann, Rodrigo de Paul, Pablo Barrios e Ángel Correa. Contudo, esta competitividade tem sido um estímulo para o argentino, que já soma minutos importantes e, agora, o seu primeiro golo decisivo em Espanha.
Um jogo decidido pelo talento de Almada
O encontro entre Atlético Madrid e Osasuna teve momentos de tensão, oportunidades falhadas e VAR a intervir nos primeiros minutos. Aos 9 minutos, Alex Baena colocou a bola no fundo das redes após assistência de Julián Álvarez, mas o tento viria a ser anulado por posição irregular. Até ao intervalo, tanto Jan Oblak, antigo guarda-redes do Benfica, como Aitor Fernández evitaram que o marcador se alterasse, com defesas decisivas a remates de Griezmann e Lucas Torró.
Na segunda parte, o ritmo manteve-se elevado. As duas equipas criaram ocasiões flagrantes, mas a ball não entrava. Foi então que, ao minuto 63, Diego Simeone lançou Thiago Almada em campo. Seis minutos depois, o criativo argentino recebeu a bola à entrada da área, ajeitou-a com classe e rematou colocado, sem hipótese para o guarda-redes adversário. Um golo de sangue frio, que demonstrou a sua maturidade e visão de jogo.
Até ao apito final, o Atlético Madrid teve de sofrer. A Osasuna intensificou o ataque, pressionou alto e tentou explorar cruzamentos e remates de meia distância. Contudo, a organização defensiva típica das equipas de Simeone voltou a funcionar, garantindo três pontos vitais. Com esta vitória, os colchoneros subiram ao quarto lugar da La Liga, com 16 pontos, igualando o Betis.
Benfica perdeu um criativo de classe?
A transferência falhada de Thiago Almada levanta questões importantes. Será que o Benfica perdeu uma oportunidade de ouro? E, mais importante ainda, teria Almada sido uma peça essencial no sistema de Roger Schmidt?
A resposta tende a ser afirmativa. Com a saída de João Mário do protagonismo ofensivo e oscilações de forma de jogadores como Rafa ou Ángel Di María (que chegou, mas já está na fase final da carreira), Almada encaixava perfeitamente como médio ofensivo ou segundo avançado. A sua capacidade de drible, última passe e remate de meia distância torná-lo-iam um desequilibrador no campeonato português.
Além disso, Almada acrescentaria algo que atualmente o Benfica carece: imprevisibilidade com critério. Jogadores criativos existem, mas poucos conseguem aliar talento individual com tomada de decisão madura. Almada já o demonstrou na MLS, no Mundial com a Argentina e agora na La Liga.
A visão de Simeone e a evolução do jogador
Curiosamente, muitos pensavam que Thiago Almada teria dificuldades em adaptar-se ao estilo de jogo de Diego Simeone – mais físico, tático e menos criativo do que as equipas onde o argentino jogou anteriormente. No entanto, Simeone tem evoluído como treinador e mostrado abertura para integrar jogadores mais técnicos e criativos. Exemplos como Rodrigo de Paul, Griezmann ou Félix (enquanto esteve no clube) comprovam essa mudança.
Almada tem beneficiado desse modelo híbrido, onde se exige pressão alta e intensidade, mas também criatividade nos momentos certos. A sua entrada aos 63 minutos contra a Osasuna ilustra bem isso: entrou para desequilibrar, acelerar o jogo e encontrar espaços que até então não existiam.
O que significa isto para o futuro do Benfica?
Apesar de Almada já não ser uma possibilidade, a sua história deve servir de lição para o Benfica. O clube precisa de atuar com rapidez no mercado, convencer jogadores de alto nível a abraçarem o projeto e, sobretudo, oferecer garantias competitivas. Nos últimos anos, jogadores como Enzo Fernández, Darwin Núñez ou Gonçalo Ramos mostraram que o Benfica é capaz de potenciar jovens talentos e projetá-los mundialmente.
Contudo, para que isso continue a acontecer, é necessário manter ambição e investimento estratégico. Thiago Almada escapou, mas outros nomes surgirão. A questão é: estará o Benfica preparado para agarrá-los?
Conclusão: talento que faz a diferença
Thiago Almada provou, neste jogo contra a Osasuna, que está pronto para brilhar no futebol europeu. Poderia ter vestido a camisola das águias, mas optou por Madrid – e, até ao momento, essa escolha parece ter sido acertada. O Benfica olha de fora, talvez com algum arrependimento, mas também com a responsabilidade de encontrar alternativas à altura.
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